quarta-feira, 29 de junho de 2016

O “boom” das bebidas produzidas em pequena escala (“small batch”).

Nos Estado Unidos as destilarias artesanais, ou microdestilarias encontraram a fórmula certa para competir. Licores e destilados produzidos em pequena escala estão entrando no foco do consumidor, e estão forçando uma “queda de braço” ao longo deste caminho. Nos Estados Unidos não faz muito tempo em que você encontrava poucas marcas de bebidas na prateleira de um bar. Atualmente você entra e vê dezenas, até centenas de bebidas e licores diferentes, e muitos deles são de destilarias artesanais.

Scott Bush, o fundador e presidente da “Templeton Rye Spirits” afirma que o mercado moderno nunca foi tão gentil com os jovens entrantes. Como a produção e consumo de massa se tornaram a regra de ouro do capitalismo, algo considerado artesanal ou familiar estava condenado há pouco tempo atrás a trilhar o mesmo caminho dos dinossauros, a extinção.

Agora, porém, uma tendência surgiu na América e no melhor de seu sentido de comunidade, o reconhecimento das habilidades e o amor pelo fraco e oprimido.

Faça seu brinde ao “small batch”. As bebidas e licores elaborados em pequena escala e as microdestilarias que os produzem estão desfrutando de um renascimento que não se via desde os dias da Lei Seca, quando eram frequentemente - e ilegalmente - a única alternativa.

Desta vez, porém, não é um movimento de reforma impopular imposto com a Constituição, que proibia a "fabricação, venda ou transporte de de bebidas alcoólicas", que está conduzindo esta tendência. Ao invés disso, licores e destilados em pequena escala estão encontrando um lugar no mercado através de uma vontade de abraçar estranhos companheiros de tradição e inovação tecnológica.

Embora algumas das principais destilarias estejam produzindo também as suas especialidades em volume limitado, chamados também de “small batch”, os verdadeiros herdeiros do “mom-and-pop” são os pequenos destiladores ao abraçar novamente o antigo ofício de destilar bebidas.

Tecnologia tem alimentado o “revival”

Microdestilarias estão dando ao ato de beber mais opções. Trocadilhos à parte - a mesma força que tinha a mão pesada na condução das pequenas destilarias à beira da extinção, está agora desempenhando um papel importante em sua revitalização. A tecnologia, que criou a linha de montagem em escala de produção e quase determinou a morte do artesão, acaba de dar as mãos.

"A tecnologia está impulsionando o ressurgimento do pequeno grupo de fabricantes em pequena escala “small batch”, os “destilados artesanais", disse Carter Reum, que, juntamente com seu irmão, Courtney, deixaram seus empregos na Goldman & Sachs para lançar o Veev em Los Angeles, anunciado como "O primeiro destilado de Açaí no mundo. "

Os consumidores são agora capazes de divulgar suas experiências e novidades a amigos e colegas mesmo sendo ou não da mesma opinião em seus gostos. Hoje você pode vasculhar tudo lá fora e as pessoas têm vozes reais para compartilhar coisas que descobriram, disse"Carter Reum.

Ao invés de confiar em jargões de marketing ou em palavras glaciais dos locutores, agora é a vez do “evangelho do blog”, o Tweeter e o Facebook. Sem os orçamentos de publicidade das grandes empresas de bebidas, os fabricantes artesanais abraçam as oportunidades que as mídias sociais têm a oferecer.

Costumava ser que você dizia ao seu vizinho ou ao cara sentado ao seu lado no bar que descobriu um produto similar Veev, disse Carter Reum. Mas agora você pode transmitir suas impressões a mais de mil pessoas com um simples clique de um botão."

Tradição atrai consumidores

Tão poderoso como livre, ações de publicidade através das mídias sociais podem ser, o alicerce da crescente popularidade das bebidas feitas em pequena escala e a história por trás dos produtos. A história inspira a bebida com um senso de tradição e espírito de camaradagem entre destilador e dos consumidores.

"Meu bisavô era um empresário durante a proibição", disse Scott Bush, fundador e presidente da Templeton Rye baseada no estado de Iowa. "Eu trabalhei em banco, e quando eu voltava para casa nos feriados e ouvia as histórias de família sobre a bisavo fazer uísque, e enviá-lo para Chicago, eu pensei, 'Uau, isso é uma grande história, eu adoraria poder fazer isso de novo. "

Não fazer parte do contrabando, é claro, mas a escola de negócios em graduação MIT não conseguiu resistir ao canto da sereia de ressuscitar a receita original do uísque de centeio fabricado por homens, como seu bisavô, nos anos 1920.

"Eu acho que todo mundo quer sua própria marca e sua própria história", disse ele. "Eu fui atraído para isso, e eu acho que as pessoas estão interessadas nisso, e os grandes têm sido tão lentos e sem criatividade que muitos dos destiladores artesanais estão recebendo muita atenção merecida.

"Não faz muito tempo em que você entrava em um bar e você poderia seguramente dizer que haviam não mais que oito uísques na prateleira", disse Bush. "Agora você vai a um bar e encontra dezenas, até centenas de uísques, e muitos deles são as artesanais."

Enquanto “bathtub gin”(se refere a destilados artesanais produzida em condições amadoras). O termo apareceu em 1930, na era da proibição de álcool nos EUA, em referencia à sua má qualidade) e “moonshine” (bebida produzida ilegalmente à luz do luar, ou seja, na clandestinidade) podem ser coisas do passado, até mesmo os novatos no pedaço (“kids on the block”) se deleitam com esta comparação, vendo-a como uma maneira de ao mesmo tempo informar os seus clientes, como também se distanciar dos grandes produtores que saturam o mercado de bebidas.

"Quando iniciamos em 2006, nós começamos “na parte traseira do nosso carro", disse Reum, com um aceno de sua saída e de seu irmão de Wall Street literalmente para a rua. "Nós fazemos as coisas de uma forma sustentável e “eco-friendly”. É algo em que realmente acreditamos, e tudo para ganhar gradativamente mais e mais consumidores ao invés de apenas ter uma outra vodca aromatizada de uma das grandes indústrias".

Pequenez é uma virtude (“small is beatifull”)

Enquanto os poderosos da indústria de bebidas permitiram o crescimento dos pequenos fabricantes de forma complacente, os nichos de mercado nos quais bebidas como “Veev” e “Templeton” habitam, estão atraindo algumas atenções esperadas, mas indesejadas.

"Algumas das grandes empresas responderam lançando seus produtos de um único barril há uma semana e, de repente, acham que é semelhante ao nosso", disse Bush. "Mas os consumidores não estão comprando com isso, a singularidade dos produtos artesanais que ainda é a força motriz desta tendência."

Mesmo quando os grandes produtores o fazem corretamente, como no caso de Jim Beam, que também possui o popular quarteto bourbon de escala limitada de “Booker's”, Baker's”, “Basil Hayden's” e “Knob Creek”, "pequena escala" é um termo relativo. “Knob Creek”, apesar da idade de nove anos, vendeu cerca de 150.000 cascos em 2007, enquanto as vendas anuais de “Bush's rye” feitos com amor são cerca de 3.000 cascos.

"A indústria de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos é dominada por cinco ou seis grandes empresas", disse Bush. "A melhor coisa que temos é o fato de que eles não podem envelhecer uma bebida mais depressa do que nós podemos."

Oferecendo inovação e um produto com distinção num mercado na maior parte homogêneo, soa bem, mas ainda assim é uma batalha difícil, diz Reum Veev.

"Não é nenhuma surpresa que acabamos tendo a sensação de uma luta de David contra Golias, como no caso da Absolut Vodka, cujos dois últimos sabores foram açaí e uma combinação de chá “oolong” e elderflower", disse ele. "Mas vivemos pelo fato de que nós formamos adeptos que compram junto com a nossa marca, uma história por trás desta marca e que nós somos um tipo diferente de empresa."

Como em todos os relacionamentos, é uma questão de fé, tanto da parte do consumidor, como da destilaria. Nosso consumidor alvo é fiel não apenas em função do paladar, mas principalmente por causa da qualidade e da história. Reum disse: “Nós não podemos pensar que vamos perder a base de clientes cada vez que alguém divulga um novo produto de massa”.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

UMA ROTA “OURO” pelo interior paulista

Extraído da Revista Carta Premium Especial
Uma microdestilaria boutique

Em nossa passagem pelo interior paulista, também fomos à Serra Negra e conhecemos a microdestilaria Hof, que produz bebidas de reconhecimento internacional, em especial sua cachaça premium Alma da Serra. Em seus “espíritos feitos à mão”, todos os processos na microdestilaria seguem princípios artesanais e de oferecer uma bebida realmente de qualidade superior. Além da Alma da Serra, a lista de exclusividades inclui a cachaça Curato, uma premium bidestilada composta com grãos de Coffea arabica, cascas de laranja cortadas à mão e frutas secas; o Frigga, um licor creme de café, que remete a bebidas como a Amarula; e o Trigoni, um licor feito especialmente com Coffea arabica, aromatizado com cascas de laranja cortadas à mão, passas e especiarias. “Todos que vieram e provaram o produto espalham a nossa qualidade. É um diferencial. Não temos intenção de ter uma grande produção, mas algo bem exclusivo, que permita ser bem apreciado e reconhecido.

É comum recebermos ligações de pessoas que provaram a Alma da Serra e querem vir até aqui comprar diretamente e degustar. Não é à toa que a bebida foi premiada internacionalmente,
pois procuramos esse reconhecimento”, destaca Leandro Moraes, gerente da microdestilaria,
que apresentou à nossa Reportagem a pequena linha de produção e armazenamento.

Na verdade, a Hof trabalha com um conceito contemporâneo de produção em escala reduzida, com criações de receitas originais, mantendo a harmonização das propriedades marcantes dos ingredientes e a destilação em alambiques de cobre do tipo pot still. Seu conceito é de microdestilaria “boutique”, bem contemporâneo na produção de bebidas alcoólicas de alto padrão em escala reduzida. “A base de todas as bebidas é a aguardente de cana da maior qualidade e o puro álcool proveniente dos cereais.

Além disso, o clima da região ajuda na boa qualidade da cana, que acumula maiores quantidades de açúcares em seu interior. Obtido originalmente por produtores renomados e redestilado na Hof, o produto final contempla uma bebida de melhor qualidade, que pretende maior delicadeza e suavidade,
tanto no aroma, quanto no sabor”, explica M. Braunholz, sócio-proprietário da Microdestilaria Hof. “Contudo, criamos uma categoria de licores premium e destilados nobres. Por meio de garrafas numeradas, apenas algumas dezenas delas são produzidas de cada vez. Assim, abrimos caminhos inexplorados, oferecendo aos nossos consumidores novas experiências sensoriais”, completa.

Fiel ao lema “Tradição e Modernidade”, a Hof mantém a fabricação de antigas receitas com o uso da menor tecnologia possível. O espaço que abriga a microdestilaria, e aberto à visitação, é um charme à parte. A decoração resgata o clássico e o tradicional em um ambiente que encanta através da simplicidade da beleza das pequenas coisas. É um lugar fácil de frequentar, por isso vale a pena uma viagem até lá. O ambiente rústico vem propositalmente para lembrar o antigo, o secular. Os atributos de beleza estão presentes em cada detalhe da acolhedora e aconchegante arquitetura. A charmosa estrutura serve como ponto de parada para degustar uma bebida e ao mesmo tempo pode ser um espaço para exercer a troca cultural. “Queremos aproximar culturas diferentes e gerar experiências marcantes. Nem que seja por uma hora, por um dia, ou que se perpetue”, finaliza Braunholz.

A Cachaça Alma da Serra em sua versão descansada em barris de carvalho americano foi Medalha de Ouro no Concours Mondial Bruxelles – Spirits Selection, em 2014, além do 1o lugar no Ranking 2015 da Revista ViP de Cachaças Premiadas do Brasil.