domingo, 28 de setembro de 2014

Cachaça ganha cada vez mais status

iG Paulista - 13/09/2014 - 05h00 |
Rogério Verzignasse | rogerio@rac.com.br

Cachaça ganha novos sabores de olho dos consumidores mais jovens e no público feminino,


A cachaça, destilado de origem humilde, historicamente consumido nas classes mais modestas, ganha cada vez mais o status de bebida de qualidade. A produção está mais tecnificada, e se aposta na sua versão artesanal, que seleciona componentes e tem procedimentos aprimorados. De olho dos consumidores mais jovens e no público feminino, os empresários já abastecem o mercado com a pinga levemente adocicada ou com sabores de fruta. O fato é que alguns alambiques faturam alto, exportando para mercados consumidores exigentes do planeta. 

Conhecido como mé, marvada, purinha - e uma penca de outros apelidos, de acordo com a região -, o fato é que o destilado se tornou patrimônio cultural brasileiro, com direito a data comemorativa. O Dia Nacional da Cachaça, hoje, reconhecido por lei federal, faz alusão a 13 de setembro de 1661, dia em que a Corte Portuguesa, pressionada por uma revolta popular, admitiu legalizar a produção e autorizar o consumo. A pinga, até então, era clandestina. Principalmente porque prejudicava os negócios de quem, por aqui, faturava com a bagaceira, uma bebida portuguesa derivada de borras da uva.

Na moda

Com o aval do imperador, a cachaça nunca mais saiu de moda. Atualmente, 10% da aguardente de cana já é obtida por meio da destilação em alambique, que transforma o caldo fermentado em destilado cristalino, que pode ser comercializado imediatamente após a fabricação, ou ser envelhecido em tonéis de carvalho, o que encarece o preço da garrafa. Mas, claro, nem tudo são flores.

O setor reclama - e muito - dos abusivos impostos incidentes sobre a produção, e denuncia que a modernização da produção depende quase que exclusivamente dos investimentos privados.  Aqui pelo Estado de São Paulo, por exemplo, não existe incentivo do governo em pesquisas, treinamento na capacitação de trabalhadores, ou na própria organização do segmento.

Sem ajuda

De acordo com Reinaldo Annicchino, presidente da Associação Paulista dos Produtores de Cachaça de Alambique (APPCA), setor pediu ajuda do governo para criar um selo de qualidade, que pudesse atestar a qualidade da "caninha" paulista. Mas o projeto nunca saiu do papel.

Minas Gerais, por outro lado, há duas décadas começou a investir no aprimoramento da cachaça de alambique, por meio de pesquisas implementadas dentro das universidades estaduais. Minas acabou se transformando em referência da cachaça de qualidade, enquanto que os investimentos paulistas se limitaram à produção da indústria. Hoje, os alambiques paulistas sonham mudar o quadro. "Precisamos incentivar um segmento que tem potencialidade para gerar muito mais emprego e renda", fala. "São Paulo precisa fomentar programas específicos para o setor."

Grandes engolem

Por enquanto, diz o presidente, o mercado se encarrega de tirar das prateleiras uma enormidade de marcas. As linhas de produção menores simplesmente são absorvidas pelas maiores. O setor também, sofre, a seu ver, com a agressiva tributação.

"Para cada nota que emitimos, pagamos impostos da ordem de 53,77%. Com a sua parte nas vendas, o empresário paga as contas de produção, embalagem, transporte, comercialização. O ambiente é inóspito, Cada diz mais difícil sobreviver" , fala. "A gente espera desonerar o setor."

Alambique

O alambique de cobre, essência da produção artesanal de cachaça, é herança cultural dos avós, que produziam pinga em Mirassol. O equipamento funciona há duas décadas, em um barracão improvisado dentro da antiga granja da família, na entrada de Vinhedo. Pois o neto Renato Andretta não quis saber de criar frango.

Modernizou o espaço, espalhou tonéis imensos pelo espaço, e transformou o sítio em ponto turístico. O carro de boi, por ali, é mobília decorativa, e expõe litros e litros de cachaças e licores. E o negócio vai bem. São 30 mil litros de pinga produzidos a cada ano. E a clientela é formada por gente refinada.

Valorização

O empresário fornece para restaurantes elegantes da cidade. E coloca no mercado um produto diferenciado. A canela, ou a mistura com xaropes de frutas, faz da cachaça uma bebida adorada até pela mulherada. "Já se foi o tempo em que pinga era sinônimo de gente embriagada", fala. E tem mais. Muita gente paga até três vezes mais por um litro de pinga quando ela é envelhecida em tonéis de carvalho.

Para manter a produção, o Alambique Andretta conta com apenas três funcionários. O próprio Renato - balconista, recepcionista e operador do equipamento -, um rapaz que corta cana no sítio, e um motorista para o trator. "O preço da bebida artesanal é caro demais perto da industrial, mas quem prova não larga. A gente sobrevive com dignidade", fala.

Ele admite, sim, que os empório badalados vendem "cahaça de grife", com preços astronômicos, comparáveis aos do uísque importado. Mas nem sempre pinga artesanal custa um absurdo: "O cliente se torna fiel quando conhece o produtor, o capricho, a seriedade do processo. Isso é que faz cachaça da boa".

SAIBA MAIS 

As pessoas interessadas em obter informações mais detalhadas sobre o setor podem acessar o www.appca.com.br, site da Associação Paulista dos Produtores de Cachaça artesanal. Contatos com o presidente Reinaldo Annicchino podem ser feitos pelo telefone (19) 3491-1313. Quem tem interesse em conversar com Renato Andretta, que produz cachaça artesanal na RMC, pode ligar para (19) 3876-1860 ou escrever para o e-mail alambique.renato@gmail.com

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Descubra os segredos da rota da cachaça paulista


Já famosas pelo turismo oferecido, o Circuito das Águas Paulistas une os passeios já consagrados, como os de aventura, compras, histórico e de águas para dar espaço para os tradicionais alambiques da região. Da orgânica à tradicional, as premiadas cachaças do Circuito despertam a atenção dos visitantes e ganham roteiro próprio. A região detém algumas das melhores cachaças do Brasil e do Estado de São Paulo.

É no pequeno e rústico Sítio Santo Antônio que se produz a Cachaça Campanari, uma das mais antigas de Monte Alegre do Sul. A qualidade da bebida é reconhecida: foi premiada nos últimos concursos nacionais de cachaça promovidos pela USP (o Concurso de Qualidade da Cachaça, dentro do evento Brazilian Meeting on Chemistry of Food and Beverages), bem como nos Concursos de Qualidade da Cachaça, organizado pela UNESP de Araraquara. À frente da produção está Antonio Sérgio Campanari, o Neno, neto do italiano Luigi Campari, que começou a destilar a caninha em 1932. A receita foi repassada para vários descendentes, que montaram outros alambiques. As fotos dessa saga estão nos barris de carvalho expostos na loja. Onde fica: Estrada de Monte Alegre do Sul, bairro dos Limas-Barra.

Para quem acha que alambique tem de ter máquinas de cobre, roda d'água e muita história, o Chora Menina preenche todos os requisitos. Administrado por Rodrigo Borin, o lugar foi fundado por seu avô, em 1956, e ganhou esse nome porque eram as três filhas que pegavam no pesado para ajudar o patriarca italiano. Hoje, o local produz 7 mil litros por ano. Onde fica: Chácara Sto Antonio, em Mte. Alegre do Sul.

Perto do centro de Monte Alegre do Sul, a Adega do Italiano é um dos alambiques mais conhecidos de Monte Alegre do Sul. Além de conferir a boa qualidade do destilado, aproveite para bater papo com José Narciso Salzani, que construiu a adega de pedra há 27 anos.
Onde fica: Pousada da Fazenda, Rua Joaquim de Oliveira, s/nº.

De Monte Alegre do Sul em direção a Pinhalzinho, no Distrito de Mostardas está localizada a Casa da Cachaça, também uma destilaria de conceito moderno. Possui instalações primorosas em ambiente muito agradável e sofisticado. Lá é produzida a cachaça bidestilada Brisa da Serra. Onde fica: Av. Dep. Narciso Pierone, 588. Distrito de Mostardas.

Já em Serra Negra, as cachaças Theodoro e Santo Remédio, produzidas na Fazenda Amábile, reúnem o processo original de fazer cachaça e tecnologia de equipamentos. O clima da cidade ajuda na boa qualidade da cana-de-açúcar, que acumula maior quantidades de açúcares em seu interior. Um diferencial dessas cachaças é que são armazenadas para descanso em tonéis de jequitibá rosa ou envelhecida em barris de carvalho. Onde fica: Big Valley Hotel Fazenda,  Rod. SP 360 - Amparo/Serra Negra, Km 144.

Entre as produzidas pela Família Carra em Serra Negra, destaque-se a do "Nono do Tijuco", elaborada em comemoração do centenário do nascimento de Juscelino Kubitschek. A produção foi solicitada por Antoninho Rapassi, presidente do Instituto Semana JK, em Americana.
Onde fica: Sítio Bom Retiro, Rod. SP 105, Km 9 - Estrada Serra Negra / Itapira.

Praticamente na divisa entre Serra Negra e Monte Alegre do Sul, está localizada a Microdestilaria Hof, inspirada no boom das destilarias americanas e uma das novatas na região. Trata-se de uma destilaria "boutique", que elabora destilados finos e exclusivos, aguardentes compostas, licores destilados e a cachaça Alma da Serra, bidestilada e descansada em barris de carvalho americanos e franceses de procedência, que já renderam à menor destilaria da região o 4º lugar de melhor cachaça em 2013 pela UNESP e medalha de ouro no prestigiado Concurso Internacional de Bruxelas em 2014, concorrendo com mais de 150 cachaças nacionais.
Onde fica: Rod. Joaquim Alexandre Zocchio, s/nº, Km. 4 Bairro da Serra.

Em Águas de Lindóia, um simpático senhor Ditinho, com seus mais de 74 anos, é o personagem central do Engenho do Barreiro, uma construção colonial do século XIX, que desperta a curiosidade dos visitantes. Lá, peças que poderiam estar em museus, contam um pouco da história da cidade e da fabricação da cachaça com a ajuda do sr. Ditinho. Feitas artesanalmente, as cachaças do Barreiro podem ser degustadas no próprio sítio e os turistas ainda vêem a cachaça azul, um dos três tipos de cachaças produzidos por lá. Onde fica: Av. Aparecido Rodrigues da Rocha, 1.175, Bairro do Barreiro.

Sucesso em Lindóia, o Engenho Cavalo de Tróia, além de alambique, faz produtos artesanais, como o fubá e, ainda, café torrado e moído na hora, suco de uva e o conhecido sorvete de queijo. Onde fica: Rod. SP 360 - Serra Negra / Lindóia.

A Adega Benedetti, em Amparo, fabrica a cachaça Flor da Montanha, que também recebeu medalha de ouro no Concurso Internacional de Bruxelas de 2014 com sua versão prata . A história da família Benedetti, como produtores, iniciou em 1929. A cachaça começou a ser produzida juntamente com o açúcar e, hoje, a bebida é uma das mais conhecidas em toda a região. Onde fica: Rod. Amparo / Serra Negra, Km 138 - Bairro dos Almeidas.

Baseado nas reportagens de Aryane Cararo – O Estado de S.Paulo e Leandro Amaral

Cachaças do Circuito das Águas são premiadas em concurso internacional

SEBRAE
Publicado em Segunda, 30 Junho 2014 13:58
A qualidade de três marcas de cachaça produzidas por pequenas empresas do Circuito das Águas Paulista foi colocada à prova em um dos mais importantes concursos internacionais de destilados, concorrendo com produtos de várias regiões do Brasil e de outros 14 países. A Aguardente de Cana Flor da Montanha Branca 2012, a Cachaça da Torre 2007, ambas produzidas em Amparo, e a Cachaça Alma da Serra 2012 ganharam medalhas de ouro e prata no Concours Mondial Spirits Selection 2014, realizado pela primeira vez na América Latina, em Florianópolis, no começo de maio.O Brasil teve 59 marcas premiadas.

Entre as mais de 700 amostras de destilados que participaram do certame, 100 delas são de cachaças produzidas por pequenas empresas brasileiras, entre elas a Indústria e Comércio de Aguardente Benedetti, que produz a Aguardente de Cana Flor da Montanha e a Cachaça da Torre, produtora da marca que leva o mesmo nome da empresa. As duas empresas sediadas em Amparo foram indicadas para participar da premiação pelo Núcleo de Agronegócio do Escritório Regional de Campinas do Sebrae-SP.

A Fazenda Benedetti, existe há 90 anos, sendo que o primeiro registro da Aguardente de Cana Flor da Montanha é de 1959. Hoje são produzidos 70 mil litros da bebida por ano, em processo manual, sendo que a cana-de-açúcar é produzida também na propriedade. O principal mercado da aguardente está na própria região do Circuito das Águas Paulista. Para a diretora da empresa, Juliana Benedetti, a premiação, com a medalha de ouro, diante de tantas marcas, foi uma surpresa. “Sabíamos que nosso produto tinha qualidade e recebemos o incentivo do Sebrae-SP para participar, mas foi a primeira vez que entramos em um concurso. A medalha certamente dará notoriedade e reconhecimento e permitirá a expansão da marca”, afirma.

Desde o ano passado, a Indústria e Comércio de Aguardente Benedetti é atendida pelo Programa Agentes Locais de Inovação (ALI) e vem realizando uma série de melhorias na área de inovação e de gestão empresarial. Segundo Juliana Benedetti, também estão sendo realizadas ações de marketing com a criação de novo rótulo para a garrafa da aguardente.  

A medalha de prata obtida pela Cachaça da Torre também foi uma surpresa para os administradores do Alambique que iniciou as atividades em 1999 e, ao longo dos anos, buscou o aprimoramento da produção que é 100% artesanal. A empresa produz 4.000 litros da cachaça por ano e, além do mercado regional, tem cliente em outros Estados. A empresa já foi premiada em duas edições do Concurso de Avaliação da Qualidade da Cachaça realizado pela Universidade de São Paulo (Brazilian Meeting on Chemistry of Food and Beverages). “Foi uma surpresa e esse prêmio é importante para ampliar o nosso mercado”, conta Viviane Baldin, responsável pelo processo de destilação da cachaça.  
A segunda medalha de ouro do Circuito das Águas Paulista foi para Serra Negra, onde está sediada a
Microdestilaria Hof, instalada na região desde 2004. A empresa inscreveu para o concurso a marca Alma da Serra 2012, uma cachaça Premium, bidestilada de forma tradicional e descansada naturalmente.

Para o gerente do Escritório Regional do Sebrae-SP em Campinas, José Carlos Cavalcante, o resultado do concurso é uma importante conquista. “A premiação coloca em evidência a região como importante polo produtivo e principalmente os pequenos negócios que atuam no setor, e mostra ainda a importância da capacitação do empresário, são empresas que buscaram a inovação, a melhoria da qualidade nos processos e, merecidamente, conquistaram o reconhecimento”, avalia.  

Participação Nacional
A competição acontece há 14 anos e foi realizada pela primeira vez no Brasil e em um país da América Latina. O evento é organizado pelo Concours Mondial de Bruxelles e nesta edição contou com a parceria do O Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e Sebrae Nacional. Durante a competição, nos dias 6, 7 e 8 de junho, foram avaliadas 720 amostras de bebidas destiladas, sendo 238 do Brasil (220 marcas de cachaça e 18 entre grappa e vodca). As demais são da Alemanha, Bélgica, Chile, China, Espanha, França, Inglaterra, Itália, Martinica, México, Peru,  Portugal, República Dominicana e Taiwan.

Em degustações às cegas, feitas por 40 provadores internacionais e profissionais, os produtos foram premiados com três tipos de medalhas: a Silver Medal, atribuída às amostras com características claras de qualidade e equilíbrio definitivo; a Gold Medal, para o destilado que se destaca pela qualidade intrínseca e apresenta uma impressão acima da média de equilíbrio e expressão; e a Grand Gold Medal, aos produtos que se destacam em todos os níveis e para todos os critérios de degustação. Oconcurso premiou 215 destilados de todo o mundo, sendo 11 medalhas “dupla de ouro”, 100 de ouro e 104 de prata. O Brasil levou 59 medalhas, colocando o país como um importante mercado produtor em nível mundial